Vidros Fumados
Éramos duas raparigas, dois polícias, um roubo e uma mão cheia de bairros sociais. Ali estávamos no carro. Numa iludida ronda, mas num pranto real. O dia de sol tornou-se repentinamente numa noite assombrada. O ego do estatuto de um lado, o ego corrompido do outro. Ali nenhuma prosa barata falava sequer de moralidade. As fogueiras falavam sobre uma sociedade que se esqueceu da justiça. Nos nossos rostos, o escândalo. No rosto de Portugal, a delinquência. No carro da polícia, atrás daqueles vidros fumados, foi traçado um futuro incerto para quem ainda escolhe pisar esta terra. As queimadas fulgurantes desapareciam mais rápido do horizonte do que a velocidade com que se impunha a igualdade. Tudo ali parecia bruxaria. Todo o arame farpado parecia ter histórias macabras para contar. Cada roupa rasgada parecia sinalizar a brutalidade dos factos. Tudo parecia esconder algo. Até a família que apanhava laranjas me parecia sabotar a beleza da própria laranjeira. Sinto que nesse dia Portugal e